A Linguagem Musical na Escola
A Linguagem Musical na Escola

Autoras: Denise Luzia de Amorim Ferreira, Terezinha Albuquerque Goes, Cleuza de Oliveira Parangaba, Marlene da Rocha Silva e Olga Maria dos Reis Ferro

 A musicalização é importante na infância porque desperta o lado lúdico aperfeiçoando o conhecimento, a socialização, a alfabetização, inteligência, capacidade de expressão, a coordenação motora, percepção sonora e espacial e matemática. Conforme estudos de Gardner (1996) sobre crianças autistas, em que estas, são extremamente perturbadas e que freqüentemente evitam o contato interpessoal e talvez nem falem, possuem capacidades musicais incomuns. Isto talvez, porque houvessem escolhido a música como principal canal de expressão e comunicação, ou também porque a música é tão primariamente hereditária e que precisa de tão pouca estimulação externa, quanto falar ou andar de uma criança normal.

A educação através das artes proporciona à criança descoberta das linguagens sensitivas e do seu próprio potencial criativo, tornando-a mais capaz de criar, inventar e reinventar o mundo que a circunda. E criatividade é essencial em todas as situações.

Uma criança criativa raciocina melhor e inventa meios de resolver suas próprias dificuldades. No início do século XX, aparecem os métodos ativos de: Declory, Montessori, Dalton e Pakhurst, formando a nova escola. Esses pensadores outorgaram a música como um dos principais recursos didáticos para o sistema educacional, reconhecendo o ritmo como um elemento ativo da música, favorecendo as atividades de expressão e criação. Na mesma época, alguns pedagogos musicais, ganharam destaque: Èmile Jacques Dalcraze, Maurice Martenot, Carle Orff, Zortan Kodaly, Shinichi e o famoso filósofo e psicopedagogo musical Edgard Willems. Na segunda metade do século, começou a predominar a observação das reações do ser humano, a forma com que consegue integrar-se ao íntimo e adquirir significado para sua vida pessoal.

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998) cita que desde a Grécia Antiga, a música era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da Matemática e Filosofia. A música no contexto da educação infantil vem ao longo de sua história, atendendo a vários propósitos, como formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, a memorização de conteúdos, números, letras etc., traduzidos em canções. O Referencial Curricular ainda relata que muitas instituições de ensino encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional, mostrando a defasagem existente entre o trabalho realizado na área da música e nas demais áreas do conhecimento, devido ao sistema de notas que de certa forma limitam o trabalho do professor enquanto parte do sistema na qual está inserido dificultando o mesmo.

Percebese-se, ainda, que falta integrar os conteúdos para que a linguagem musical não fique fragmentada. E assim temos que ajudar as crianças a expressar seus sentimentos e a música começa a fazer o seu papel na construção do conhecimento.

Pode-se desenvolver todos os conteúdos usando a linguagem musical e assim desenvolvendo todas as áreas do conhecimento. A criança constrói seu próprio conhecimento acerca das coisas do mundo a partir de relação que estabelece com seus pares. Neste processo de formação do ser humano, a música está associada diretamente ao desenvolvimento do mesmo, e através dela, a criança pode expressar todos seus sentimentos.

A música é uma linguagem muito expressiva e as canções são veículos de emoções e sentimentos, e podem fazer com que a criança reconheça nelas seu próprio sentir. Para Gainza, “a linguagem musical é aquilo que conseguimos conscientizar ou aprender a partir da experiência”. (1988:119)

Gardner (1996) admite que a inteligência musical está relacionada à capacidade de organizar sons de maneira criativa e a discriminação dos elementos constituintes da música. Em um trabalho pedagógico, a linguagem musical deve ser valorizada como um mecanismo essencial na formação intelectual da criança, os resultados no ensino da música são os mesmos durante as atividades musicais, dançando, cantando, compondo, ouvindo, a partir desse momento, o professor propicia situações que contribuem para uma aprendizagem mais rica e significativa.

O ensino da música favorece o desenvolvimento da expressão artística além de despertar nas crianças o gosto pela música, contribuindo para a livre expressão de sentimentos.

Compreendendo o processo do desenvolvimento infantil do ponto de vista sócio afetivo, enfatizamos a importância de que a criança tenha uma auto-imagem positiva e que devemos valorizá-la como pessoa, a interação e a socialização contribuem para este processo.

Do ponto de vista cognitivo, destaca-se a necessidade de levar sempre em consideração o fato de que a criança conhece e constrói as noções e os conceitos à medida que interagem com outras pessoas e diferentes objetos, sons, lugares.

Do ponto de vista lingüístico, coloca-se essencialmente o desenvolvimento das diferentes formas de representação verbal. É neste sentido que a música exerce um papel fundamental porque através dela a criança canta, dança, representa, imagina, cria e fantasia sua própria expressão de comportamento e sentimentos.

E já no ponto de vista da psicomotricidade, entendemos que a criança precisa expandir seus movimentos, explorando seu corpo e o espaço físico. Todos os aspectos estão associados diretamente ao desenvolvimento infantil, portanto cabe a escola proporcionar atividades que estejam relacionadas com a realidade das crianças, com uma proposta pedagógica coerente às necessidades das mesmas.

A música está presente nas tradições e nas culturas dos povos em diferentes épocas. Sua presença está no dia a dia das pessoas e, pela sua complexidade de conhecimento, torna-se necessário sua sistematização através da educação formal, como proposta curricular pedagógica.

Portanto, é preciso fazer uma reflexão crítica sobre as várias funções que a música assume ao longo da história, a fim de construirmos uma estrutura sólida na prática pedagógica da educação musical.

Música é linguagem, portanto, devemos seguir o mesmo processo de desenvolvimento que adotamos quanto à linguagem falada, ou seja, devemos expor a criança à linguagem musical e dialogar com ela sobre a mesma.

O educador consciente tem como objetivo principal, trabalhar todas as áreas de conhecimento do seu aluno, inclusive a linguagem musical. Esta vem como instrumento, recurso para as aulas. Desta forma, a música contribui sistematicamente e significativamente com o processo integral do desenvolvimento do ser humano. A música tem uma linguagem abrangente. E o ensino dela favorece o gosto estético e de expressão artística. Formando o ser humano com uma cultura musical desde criança, estaremos educando adultos capazes de usufruir a música, de analisá-la e de compreendê-la.

O educador pode trabalhar a música em todas as áreas da educação. A música tem um poder criador e libertador, ela torna-se um poderoso recurso educativo a ser utilizado na pré-escola. É preciso que a criança seja habituada a expressar-se musicalmente desde os primeiros anos de vida, para que a música venha a se constituir numa faculdade permanente do seu ser.

A música representa uma importante fonte de estímulos, equilíbrio e felicidade para a criança. Assim, na Educação Infantil os fatos musicais devem induzir ações, comportamentos motor e gestual até o primeiro ano de vida, pois a partir daí elas estão abertas para receber. A contribuição da música no processo de aprendizagem tem embasamento tanto no referencial para educação infantil, como também para teóricos, que abordam a música como um dos temas principais para a construção do conhecimento.

Georges Snyders (1990) descreve a música como uma obra de arte. Dela pode-se extrair riquíssimos temas, abordando as mais diversas disciplinas. É fato que as escolas, não valorizam a música. Por sua vez, os professores que utilizam a música como instrumento, em seu trabalho, obtém resultados positivos. A música influencia os jovens e crianças. Ao nascerem, as canções de ninar nos acalmam, e na infância, a música se faz presente. Por toda essa riqueza a música é um recurso para a parte pedagógica.

Assim, o ensino da música pode desempenhar um papel essencial para situar em seus justos lugares, as técnicas, os exercícios, em resumo, os meios e as finalidades profundas da educação. Quando se expressa verbalmente à criança está representando. E quando canta ela está fazendo uma representação da apresentação construída através da leitura de mundo. Mesmo porque, a educação musical proporciona meios de representação do saber construído pela interação intelectual e afetiva da criança.

 

Para Gainza “A linguagem musical é aquilo que conseguimos conscientizar ou aprender a partir da experiência”(1988:119).

 

O conhecimento da música, a expressão e a criação acompanham os seres humanos no decorrer da sua história. Quando a criança chega à escola, ela já tem uma bagagem musical. O professor neste momento precisa de sensibilidade para compreender a essência da linguagem musical, e assim facilitar o contato da criança com as diversas linguagens (plástica, corporal, etc.).

E o professor deve propiciar situações para que a criança envolva com o mundo e aprenda a perceber significados em todas as coisas, sendo assim, a criança vai construindo seu pensamento e a compreendendo os sons, as canções, as diferentes manifestações em linguagem musical.

A criança cresce em desenvolvimento da sua espécie e no conhecimento da música, descobrindo ritmos, desenhando, garatujando, experimentando instrumentos musicais, confeccionando-os, descobrindo novos sons.

Para uma visão cognitivista, o conhecimento musical tem início com a interação da criança ao meio ambiente, através de experiências completas que aos poucos se estruturam, chegando a uma resposta. Para que todo este processo venha acontecer, a criança tem que ter um contato com a música ou com objetos musicais. São essas experiências concretas que aos poucos levam a uma abstração cognitivista, ampliando a compreensão do desenvolvimento do ser humano na construção do conhecimento.

São teorias psicológicas desenvolvimentistas, tais como a cognitivista de Jean Piaget, a psicanalítica de Erikson e a aprendizagem de Sears. Nos dias atuais a linguagem musical é usada como terapia, como influência no meio de certos comportamentos da sociedade, como recursos dos meios de comunicação de massa, como auxiliar em psicoterapia e como sensibilização na educação de deficientes.

Hoje, a aula de música tornou-se fundamental nas escolas, e há maior liberdade dos educandos e maior espontaneidade dos educadores. Segundo Rosa, os estudos de musicólogos como Mursell, Teplov, e outros, a capacidade de se aprender música está relacionada às experiências anteriores da criança, a atenção, memória, percepção e leitura de mundo.

Para Gainza,

 [...] o conceito e a prática caminham juntos. Por princípio todo conceito deverá ser precedido e apoiado pela prática e manipulação ativa do som: a exploração do ambiente sonoro, a invenção e construção dos instrumentos, o uso sem preconceito dos instrumentos tradicionais, a descoberta e a valorização do objeto sonoro. Na pedagogia como na arte, a única constante é o movimento, a busca interna e a exploração da realidade circundante […].

 No entanto, Howard (1984, 61), afirma que “não se pode ensinar nada a ninguém. É por isso que não dou muita atenção à pedagogia. O que é um professor? É um homem que sabe que nada se pode ensinar. Fazer música é uma atividade psicofísica interior”. Em resumo, podemos dizer que quanto mais se conhece o homem, maior é a capacidade dele aprender a música, e mais eficaz será o trabalho educativo no campo da música. “Educar musicalmente é propiciar à criança uma compreensão progressiva da linguagem musical. Através de experimentos e convivência orientada”, (MARTINS, 1985: 47).

Este é o grande desafio de nós educadores. Por isso temos que ter habilidades e competências para instigar a capacidade do aluno a fim de obtermos resultados positivos.

Comentaremos a respeito da Linguagem Musical: Que gênero é este? O ser humano tem contato com o mundo exterior através dos sentidos e o grau de desenvolvimento e aptidão da percepção de cada sentido é característico de cada pessoa. A criança desenvolve os sentidos desde que nasce e um dos papéis da escola é proporcionar situações em que ela possa explorar e desenvolver todos os sentidos harmonicamente. Deve-se proporcionar espaços e oportunidades para que a criança pré-escolar aprenda a ouvir o mundo.

A educação musical da criança se inicia pelo contato com os sons, o ritmo, a melodia. O ritmo está presente em diversas situações do cotidiano e é fácil identificá-lo e expressá-lo embora seja difícil defini-lo. Todo ritmo é marcado pelo pulso e pelo acento. Pulsos são os tempos ou pulsações regulares sobre os quais se desenvolve o ritmo – costuma-se comparar o pulso às batidas do coração. Acentos do ritmo são pulsações que se destacam do conjunto.

O professor poderá trabalhar o ritmo utilizando atividades como:

- Pedir às crianças que observem as batidas do coração e o tique-taque de um despertador;

- Deixar uma torneira pingando e pedir para as crianças que observem o ritmo do pingapinga;

- Colocar música, abaixando o volume a intervalos.

Pedir às crianças que andem ao ouvir a música e para quando o som acabar. A criança pré-escolar apresenta certa dificuldade na percepção correta de alguns ritmos mais complexos.

O importante é proporcionar aos alunos oportunidades freqüentes e variadas de contato com os ritmos e não recriminá-los por possíveis erros. Segundo Rosa (1990) a criança desenvolve os sentidos desde que nasce, por isso um dos papéis da escola é proporcionar situações em que ela possa explorar e desenvolver em todos os sentidos harmonicamente.

As crianças precisam ter experiências concretas com objetos que emitem sons, instrumentos musicais ou outros e formar um vocabulário especifico para se referir a eventos sonoros. O manuseio de objetos sonoros cria situações que será possível agrupar ou separar sons, classificar e seriar.

Craidy e Kaercher (2001, p130) afirmam que a exploração das possibilidades sonoras ou de instrumentos musicais não é uma atividade fácil de realizar com crianças, por que o barulho característico pode dar impressão que elas são muitas indisciplinadas ou grosseiras. Inicialmente, vamos observar e desenvolver na criança, atividades de descoberta dos sons: escutar, reconhecer, localizar, criar.

É importante realizar algumas atividades com as crianças para que elas possam sentir o som como: bater palmas, espirrar, estalar dos dedos. Sons da natureza também são necessários para o desenvolvimento dos alunos, chuva, vento, animais emitindo sons, folha seca, cachoeira. Objetos com diferentes sons também são importantes como: relógio, chocalhos, sinos.

O trabalho inicial como o som tem como finalidade desenvolver a discriminação auditiva e permitir que a criança se expresse. Som é a sensação que nosso ouvido percebe quando atingido pelas vibrações dos corpos sonoros. A fim de que possa desenvolver sua expressão musical, a criança deve ter oportunidade de aprimorar sua acuidade auditiva.

Trabalhando as qualidades do som: timbre, altura, intensidade, andamento. O timbre diferencia a fonte sonora, permite o reconhecimento do som. As atividades propostas para estudo do timbre, utilizam os instrumentos de bandinha rítmica. A vibração de um corpo sonoro produz ondas sonoras percebidas pelo ouvido como sons. A altura é a qualidade que permite classificar os sons em graves e agudos e está relacionada com as vibrações do corpo sonoro.

Os sons perceptíveis ao ouvido humano são os que apresentam de 16 a 30 mil vibrações por segundo. Os sons musicais são os que apresentam de 32 a 40 mil vibrações por segundo. A música tem como objetivo primordial criar condições e dar oportunidades de experiência e de expressão rítmica.

A ênfase não recai sobre a perfeição nas realizações musicais da criança, mas na alegria que ela traz e nas possibilidades de comunicação que proporciona. A música é essencialmente uma arte auditiva, que existe somente no tempo: portanto a arte de escutar exige uma atenção, sustentada e concentrada, porém muito pouco se tem feito no sentido de desenvolver nas crianças hábitos de ouvir, e se tem descuidado da compreensão auditiva.

O que temos observado é que as crianças mais novas têm uma maior capacidade de invenção e de criação musical, que tende a cair com o desenvolvimento. Isto tem para nós, como causa principal, a forma como é apresentada a música para a criança. (...) “é preciso que a criança aprenda a ouvir, para poder sentir que cabe a ela recriar novamente ao repetir [...] é preciso que os que a ouvem saibam que assistem a um ato de criação”. Queluz, apud Rosa (1984: 64-65).

As atividades com instrumentos musicais objetivam o desenvolvimento rítmico, além de favorecerem outros aspectos importantes de aprendizagem. Quando toca um instrumento, a criança estabelece uma relação que envolve tanto a percepção auditiva e rítmica quanto à expressão de sentimentos e fantasias.

O instrumento musical permite a expressão da música e, por meio do instrumento, tem oportunidade de demonstrar sua emoção. O contato com os instrumentos musicais da bandinha rítmica favorece a observação de padrões de comportamento de autodisciplina e das relações sociais e auxilia o desenvolvimento da coordenação viso motora e rítmica.

A criança deve ter oportunidade de trabalhar com diversas formas de instrumentos musicais, desde os mais complexos e raros, até os confeccionados com sucata. Através deste conhecimento ela poderá adquirir interesse pela música e posteriormente procurar um aprofundamento em algum instrumento com o qual tenha maior afinidade. O primeiro contato com os instrumentos deve ser de maneira livre e espontânea, os instrumentos musicais devem estar ao alcance das crianças na escola.

Rosa (1990) afirma que a maioria dos instrumentos da bandinha rítmica é de percussão, com variação rítmica e não melódica. Essa limitação não garante que esses instrumentos sejam mais fáceis de tocar, pois é mais difícil perceber o ritmo de alguns do que de outros. Por exemplo, é mais fácil tocar o tambor do que o guizo. A marimba e as garrafas com água são instrumentos de percussão com variação melódica. Alguns nomes de instrumentos da bandinha rítmica: Tambor, Coquinho, Pau de Rumba ou Clavas de Rumba, Triângulo, Pratos, Caxixi, Guizos, Platinela, Castanholas de Cabo, Agogô, Afoxé, Raspa-Raspa, Marimba.

Com as crianças em idade pré-escolar convém enfatizar a liberação do instinto rítmico, principalmente por meio da expressão corporal de uma forma criativa e espontânea e da

utilização de exercícios rítmicos, com acompanhamento do ritmo de canções. Para Mársico (1982:125) “Os instrumentos de percussão podem ser considerados como extensões dos instrumentos naturais de percussão - mãos, pés, dedos”.

Normalmente, a criança relaciona instrumentos da bandinha com o que ela pode realizar com o próprio corpo. Os exercícios rítmicos imitativos e criativos constituem eficientes atividades de iniciação à música com bandinha rítmica.

O conhecimento da etapa do desenvolvimento da criança é muito importante para que o educador não seja exigente demais. A criança deve se sentir motivada, segura e tranqüila em suas realizações.

A regência da bandinha é importante para que haja uma organização durante a apresentação do grupo. No início a professora será a regente e depois poderá propor que uma criança também seja. A regente combina um sinal para indicar o início da apresentação. A regente é também responsável pela marcação do ritmo e pela garantia do arranjo musical. Ela se comunica com o grupo por meios de sinais.

O ensaio da bandinha deve ser restringir a meia hora por dia, duas ou três vezes por semana. Alterações nesse esquema dependem do interesse e da motivação do grupo. O ser humano tem várias maneiras de responder aos estímulos do meio ambiente – o movimento é uma delas. O corpo mantém constante relação com o ambiente que o cerca.

Quando a criança respira, corre, fala, cheira, olha, ouve, anda, canta, dança, estabelece uma relação com o meio através de sua leitura particular do mundo. Segundo Ferraz (1987: 54) “Utilizamos nosso universo interior perceptivo e cognitivo – ideológico a fim de que se processe a leitura através do diálogo entre nós e o objeto lido”. O corpo expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos. A linguagem corporal afirma o conceito do ser humano expressando a si mesmo, ele é seu próprio instrumento. A linguagem do corpo conscientiza-se na dança, na mímica, na ginástica, nas dramatizações, nos jogos e na expressão teatral.

A dança é a expressão corporal da poesia latente em todo ser humano. E o canto é uma manifestação que contempla a linguagem corporal.

No desenvolvimento de sua expressão corporal, a criança aprende consigo mesma e manifesta um estilo próprio, que deve ser respeitado em todas as suas posições e atitudes. A linguagem musical integra a linguagem corporal e a ela está fortemente vinculada.

As atividades que envolvem especificamente a linguagem do corpo podem ser reunidas em dois grupos: as que preservam a expressão livre e criativa, tais como a dramatização, a pantomima e a dança, e as que apresentam uma forma mais dirigida e orientada, como os exercícios ginásticos, as rodas cantadas e os jogos.

A dramatização é um teatro, uma representação, em que as crianças se expressam livremente, utilizando qualquer tipo de linguagem. Os temas podem ser livres ou sugeridos pela professora. São temas habituais na escola: família, comunidade, entrevistas, estórias conhecidas ou criadas pelas crianças, livros infantis e assim por diante.

A dramatização costuma ser mais interessante e melhor aproveitava quando a professora planeja a atividade considerando o objetivo de exercício a pertinência do tema e do assunto, a duração da atividade, o material necessário, o número de personagens, o desenvolvimento do assunto e a avaliação do desempenho das crianças.

A professora deve incentivar a participação de todas as crianças, respeitando sua linguagem. Na dramatização não existe certo ou errado – o mais importante é o exercício contínuo da descoberta, da curiosidade e do pensamento divergente, para que realmente o corpo se expresse de maneira criativa e comunicativa. O exercício de pantomima é necessário para que a criança realize um bom trabalho de dramatização. É uma expressão corporal em que não se utiliza a linguagem verbal, apenas ações, gestos e expressão facial.

A criança aprende brincando, experimentando, fazendo, cantando e por isso a necessidade de atividades que façam com que o movimento e o recriar sejam imprescindível para o seu desenvolvimento: afetivo, físico e psicomotor.

A importância da linguagem musical do folclore teve a contribuição de povos de três continentes: europeu, principalmente os portugueses, povos africanos e povos indígenas que habitam o Brasil. A cultura brasileira recebeu acentuada influência da cultura portuguesa, acolhendo língua, religião, usos e costumes de Portugal. A contribuição sobre música folclórica brasileira pode ser observada nas cantigas de ninar, rodas infantis, aboios (canções para conduzir o gado), quadrinhas, acalantos, danças, cantos de trabalho, bailados, autos e dramatizações.

A cultura negra africana incorporou ao folclore nacional, cantigas, danças, como congada, quilombo, maracatu, maculelê, batuque, samba de roda. Além disso, provêm da cultura africana os conhecimentos para a construção e o uso de instrumentos musicais como: berimbau, afoxé, caxixi, agogô.

A cultura indígena é responsável pela difusão no folclore nacional de danças como: caiapós, cordões de bichos e pássaros e por influência sobre o reisado e o bumba-meu-boi. Nas canções, a contribuição aparece em cantigas infantis como Sapo-Cururu e nos instrumentos musicais, na maracá, nas flautas de osso e de bambu, na trombeta de cuia, em tambores e no trocano.

A difusão dos conhecimentos, a troca de experiências, a recriação de qualquer manifestação são importantes para o desenvolvimento da cultura como um todo dinamizando a liberdade de expressão. Em folclore no conceito de Renato Almeida (1974), há uma determinação a orientar os fatos. Eles só acontecem na época e circunstâncias adequadas e com determinados objetivos.

Rossini Tavares de Lima (1986) vai mais longe: à característica do funcionalismo de cultura informal na coletividade onde observamos é o que, principalmente, define e explica o folclore. Funcionalismo informal é aquele da expressão não sujeito a intervenção direta dos outros tipos de culturas. Todavia, é possível ocorrer á intervenção indireta. Isso explica a circunstância em que uma canção popularesca como o menino da porteira assume função folclórica. (ROSA,1990) “As rondas ou brincadeiras de roda integram poesia, música e dança. No Brasil receberam influências de várias culturas, especialmente da lusitana, ameríndia, espanhola e francesa”.(RCNEI, VOL. 3, 1998, p.71)”.

O interesse, neste trabalho é apreender os conhecimentos necessários para subsidiar nossa prática e também para valorizar a cultura própria das crianças, favorecer o trânsito da cultura entre professores e crianças, e permitir a criação e a recriação da própria cultura do país, com o cultivo do respeito à manifestação folclórica – a individualidade da criança e a do grupo a que ela pertence.

Na Educação Infantil, o contato com pessoas diferente do meio familiar possibilita que ela estabeleça novas relações e adquira novos conhecimentos. Convém fazer a criança descobrir o folclore em suas próprias manifestações, relacionando-as com as manifestações das outras crianças.

As canções folclóricas têm como características a autoria anônima, a aceitação coletiva que conduz à criação de variantes, a transmissão oral, a tradicionalidade e a funcionalidade. Ao fazermos referência das ladainhas para saltar corda, brincadeiras cantadas, pequenas danças folclóricas e jogos com regras. Esta união de atividades lúdicas se justifica pela importância de assegurar a preservação da cultura popular o aparecimento da capacidade de auto-organização das crianças e pelo senso de competitividade evidenciado por elas nesta fase do desenvolvimento.

Ladainhas para saltar corda são pequenos versos que acompanham ritmicamente o ato de pular corda. Pertencem à cultura popular infantil e passam de geração para geração através da atividade lúdica e espontânea das crianças. Resgatá-las, enquanto recurso pedagógico de obtenção de alguns dos objetivos da Educação Física Escolar. Quando a criança pula corda recitando uma ladainha, o desenvolvimento do senso rítmico é mais expressivo do que quando ela simplesmente realiza o movimento sem recitar há um elemento novo a ser considerado pela criança representado pelo ritmo da ladainha. E sempre que há a introdução de um elemento novo em qualquer atividade, esta se torna mais complexa e mais desafiadora.

Quando a criança realiza este trabalho em grupo, com outras crianças girando a corda e/ou pulando junto, à complexidade é ainda maior porque ela tem de coordenar o ritmo da ladainha ao seu e ainda ao do grupo, e isto representa novos ajustes motores e cognitivos. O andamento da ladainha (mais rápido, mais lento) pode ser alterado, a pedido do professor ou por iniciativa das próprias crianças, representando novo desafio a ser vencido ao nível do espaço e do tempo.

Por ser cultura vivida no cotidiano, o folclore muitas vezes não é perceptível, já que sua manifestação pode estar num simples gesto, numa expressão visual ou facial ou ainda numa

forma de linguagem popular já incorporada.

Todos os elementos envolvidos nas atividades de uma escola possuem uma bagagem cultural suficiente para fornecer subsídios a um trabalho de pesquisa e desenvolvimento do folclore. Muitas ladainhas contêm diálogos que são efetuados entre a criança que salta e o grupo, constituindo verdadeiras comunicações rítmicas. Associar o ritmo à fala, combinar linguagem oral com gestual e melhorar a organização espaço-temporal são, então, objetivos inerentes a este trabalho combinado de pular e recitar versos.

No nível do domínio motor, objetiva-se o desenvolvimento da coordenação motora, da agilidade, da força e resistência localizada de pernas, da resistência cardio-respiratória e das habilidades motoras de saltar e correr. As crianças, em geral, realizam com prazer à atividade, repetindo-a várias vezes, até sem a insistência do professor, e essa repetição é importante para melhorar o rendimento.

Nestas atividades ocorrem trocas constantes, uma criança entra na corda, outra sai, duas giram a corda para a outra saltar e esta alternância pode ajudá-las a compreender que sempre existem diferentes papéis a serem exercidos no grupo social, ora representado pela brincadeira.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a música está presente em diversas situações da vida humana, este tema nos chamou a atenção despertando o desejo de pesquisar a contribuição da mesma no processo de aprendizagem. Através do nosso estudo, percebemos que as atividades musicais fazem um apelo intrínseco ao interesse da criança devendo induzir a ações, comportamentos motores e gestuais inseparáveis da educação perceptiva. Todos os aspectos do desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor estão intimamente interligados, tornando-se difícil dizer que a música é também um

fator importante no desenvolvimento cognitivo e afetivo, pois ele permite essa interação da qual fazem parte os sentimentos correspondentes à criança.

De acordo com os dados levantados percebemos que alguns professores ressaltam que a música favorece o desenvolvimento da expressão artística além de despertar nas crianças o prazer pela audição, contribuindo para a livre expressão de sentimentos.Concluímos que o educador pode trabalhar a música em todas as demais áreas da educação, deve associar a música com temas específicos como números, poesias, folclore, gramática, história e geografia. Esta interdisciplinaridade, através da música, exige do professor, habilidade e competência para criar situações que levem a criança, construir os seus conhecimentos.

Do ponto de vista lingüístico, como afirma Platão, coloca-se essencialmente o desenvolvimento das diferentes formas de representação verbal na linguagem musical. É neste sentido que a criança canta, dança, representa, imagina, cria e fantasia sua própria expressão de comportamento e sentido. De acordo com Gainza apud Rosa “a linguagem musical é aquilo que conseguimos concretizar ou aprender a partir da experiência”.(1988:119).

A vivência na música, de certa forma, trabalhada na escola. No primeiro contato com a realidade musical, cada criança demonstra interesses diferentes, que os professores procuram inserir a música no seu planejamento diário por considerá-la como atividade que valoriza a linguagem musical e que destaca sua autonomia, valor expressivo corporal (jogos de improvisação, interpretação e composição). Elas realizam a atividade musical, duas ou três vezes por semana.

Constatamos também que os professores trabalhem a música de forma lúdica e prazerosa, envolvendo gestos, movimentos, canto e o faz de conta.Entretanto, percebemos que existem algumas dificuldades por parte dos professores, por considerar que não dispõem de recursos para trabalhar a linguagem musical de maneira adequada a esta faixa etária.

Constatamos através de nossa pesquisa que a música torna-se um elemento condutor da aprendizagem, muito importante no desenvolvimento cognitivo, afetivo e da psicomotricidade do educando.